Crónica: A certeza de um incerto Portugal rico
André Ribeiro
São inúmeras as notícias que regozijam o aumento do poder de compra em Portugal, o aumento do crédito particular, parece que, no fundo, estamos nos tempos das antigas "vacas gordas". Todavia, uma certa facção noticiosa demonstra uma defeito neste crescimento português. A dívida pública também esta a aumentar.
O Governo está a falhar neste aspecto. Todos concordamos que sabe gloriosamente "bem" receber um aumento na conta bancária ao fim do mês, sabe mesmo bem poder gastar um pouco mais porque alguns impostos desapareceram, e sabe tão bem poder comer aquela bola de Berlim na praia porque os avós receberam mais um 1,5 € de aumento na reforma.
Já agora, existe uma app para pedir bolas de Berlim na praia sem ter que gritar pelo vendedor. Aos berros precisava o Governo de entender que, enquanto a divida publica crescer, Portugal está condenado a ser rotulado como o "lixo" das várias agências de rating mundial.
Não me venham dizer que somos um pais estigmatizado pela crise, simplesmente, gostamos de estar em crise. Somos como uma dieta iô-iô, deixamos de comer um mês para engordar dois. É correcto, vivemos um enorme período de austeridade fiscal e até social, mas aguentamos, ficamos com o desejo de ter, o desejo de poder comprar, mas não podíamos abrir mão para um futuro cinzento. Já tínhamos vivido demasiado acima daquilo que realmente podíamos possuir. Hoje, resultado desse período, estamos mais magros, mas com mais consciência do dinheiro que podemos gastar.
Contudo, a visão do Governo contrasta com esta nova consciencialização popular, Portugal é um novo oásis pós-crise num, ainda, extremo deserto. Como qualquer oásis a água seca, a carteira também se esvazia.
Não nos serve de nada aumentar os apoios sociais, cortar os impostos, aumentar os rendimentos mínimos se a dívida continua a aumentar. Recorrer a uma crédito para cobrir uma dívida é um jogo perigoso. A certeza é de que ricos não estamos e o Governo pobre não nos coloca, falta é saber qual é o culto desta aparência burguesa.
André Ribeiro
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